28.8.06

Linhas para o irmão que vai pra Cuba.

Verdade pura seja dita:
é sempre pior para quem fica.
Com quem vou reestofar
as velhas cadeiras do Comopolita?
Para quem passarei os cinzeiros,
e o isqueiro que será roubado,
antes que a noite seja esquecida
e as vozes falem com lábios calados.

Verdade pura seja dita:
Que dá trabalho, dá trabalho,
ter que criar novos significados
Para móveis, cantos e falas
Que se ergueram atrás de cada curva
Do conforto de um carinho qualquer.
Quando tudo me foi negado,
eu ainda tinha aquilo.

Eu antecipei perder
O que nunca foi meu
(e essa nem é a pior dor).

Que as negras enrolem charutos
em pernas grossas e lustrosas,
cansadas de paralelepípedos,
das propostas mais sinuosas
em sinucas cansadas demais
para deixarem de existir
(dá trabalho, dá trabalho).

Eu talvez aprenda grego
antes de você ter voltado
(dá trabalho, dá trabalho),
Eu talvez me julgue mais feliz
pela felicidade de você não estar aqui.


Verdade pura seja dita:
é pior para quem fica.

Mas onde a ausência causar a saudade
o amor sempre estará presente.

J.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que dor no coração...
Essa última estrofe é arrepiante, Julia...
Como eu sinto saudade na vida!
Que vontade de desmaterializar todas as ausências!
mas e o prazer de sentir saudade?

Que maravilha de escrita...
Orgulho pleno de primo Arthur,

Beijo no Asfalto