25.10.06

23.10.06

Unhas Partidas

Eu mal posso respeitar a minha respiração. Eu a prendo entre goles de champanhe, eu a esmago com o peito pesado de desejos, com a fumaça de últimos de muitos outros cigarros que ainda virão. Eu sinto saudades, sufoca com sombras escuras, deixa o pulmão estreito, as causas e efeitos distantes. Quando eu estava lá, com você, com seus pés nas minhas pernas sob a inapropriada mesa de churrascaria onde eu passei a minha infância fazendo esculturas com pães de queijo ruins e palitos de dente. Porque você faz isso comigo? Porque você não faz o que eu quero mas não posso pedir?
Eu quero o elusivo vestido branco que cresce frente aos olhos das mulheres na vitrine, o filho que recomendarão que seja abortado, o estúpido laço dourado, as horas entre suco de laranja, jornais que só você lê e começos de dias que começam tarde demais para terminarem cedo. E você lê os jornais pra mim, quebrando os códigos da máfia nos classificados:

“O Tio Altermar Gostaria de Agradecer A Visita De Seus 15 Sobrinhos A Casinha Na Encosta. Esperamos Vê-los Novamente Na Próxima Primavera”

ou alguma coisa do gênero.

E eu ria, tão boba, rindo daquele jeito, escondendo a minha nudez atrás de um lençol estrategicamente largado sobre minhas pernas. E os dias passaram, eu novamente raspei os meus sovacos, as tropeços e solavancos atravessei as multidões que roubavam nossas palavras. E eu agora entendi quase tudo o que você dizia, todas as mensagens subliminares de canções românticas que me fizeram sentir a melhor entre as mulheres por estar nos braços de um sujeito que beijava os meus olhos antes de eu dormir. Eu me perdi depois, sozinha no carro escuro, voltando pra casa sob os olhos de um preocupado taxista enquanto tentava enxugar a água salgada que os meus óculos escuros não conseguiram aprisionar. Deus sabe como eles tentaram.
O amor é uma ferida. Não ponha sal sobre ela. Ela precisa respirar, não a cubra com essas bandagens, não olhe pra ela com medo. Afinal, foi minha voz que me traiu? Foram os óculos? Foram as minhas mãos? Eu quis me entregar, mas ainda não sei como. Você não me deixou entender, só me fez entregar cada vez mais, cada centímetro de um braço a ser beijado, cada suspiro e cada unha partida contra as suas costas.



J.

Novo Convidado

Que sangue corre nas suas veias?
sangue sujo, sangue de besta
Que nem os cães querem lamber.

E quem vai querer beijar
Essa sua boca azeda,
essa moldura de língua negra?
Alguém virá, alguém virá.

Agora eu lembro, sim, eu lembro,
Da luz fosca de um pêndulo
Da onde gotas de óleo escorriam.
Por que me ungiam nesse altar?

E que altar, que altar era aquele,
Quem me amarrou nele?
E como eu voltei a ser
Essa que agora brinda você,
Com a reza destorcida,
E a boca inquieta.

Que agora transfigurada
Com seus olhos rolando na nuca,
Uma gralha bicando seus seios,
Crisântemos velhos na sua cintura,
Carregados de perfumes -
Que não pertenciam a eles -
Talvez sangue, talvez rede
de esgotos, talvez vislumbre
De algo que não se conhece.

Não, eu nunca fui aquela.
Eu não voltei, cheguei agora.
Eu me perdi, foi numa dessas,
Vamos, já passou da hora,
já doeu e já sarou;
O que restou eles jogaram fora.
E finalmente, estou aqui,
nesse banquete de formas negras:

Erguendo meu corpo sobre a mesa;
Mãos sujas do sangue da besta.

Erguendo a voz e os olhos cegos,
brindando tudo que nego
em um copo pra você.

Pois nada restou,
Nada que possa ser mencionado
Talvez só uma cadeira
Para um novo convidado.

Algumas Linhas Para Lívia

Aspira as horas lentamente,
Decodifica seus perfumes.
O que te salva e te envenena
Nunca virá imune
De castigo ou recompensa.
Desconfia inocentemente
Da sua própria inocência.

Paixão morna e primordial
Deve pulsar entre a mente e os dedos,
Entre o coração e a sola dos pés,
Entre a luz e os olhos acesos.
Entre - sem pressa: ouça -
O vago assobio, o lento sussurro
Que constroe a vastidão do mundo.

Não tenha medo do tempo.
Ele abrirá as covas,
E não irá reabri-las.
Quebra os berços que adormeceram
Ouvindo suas canções antigas.
Não tenha medo do tempo.

Tema, sim, todas as promessas
De corações inoxidáveis,
Não confie nos astetas
Que ostentam sua bondade.
Seja noiva sem véu
Perante o espelho.
Se arrependa, se perdoe,
chore se for preciso,
Só se for preciso.
Eventualmente será preciso.

Você é dessas abençoadas
Com uma alma larga
Que se ergue acima da pele
E se esfrega nua no mundo.
Às vezes contra o arame farpado
De mesquinhos campos marcados
Por círculos de sal.
Às vezes contra o veludo flúido
Que se derrama sobre tudo
Que é belo por si só.

Eu te desejo apenas
Tudo o que você merece,
E nessa longa lista, inclua:
O meu amor, as minhas preces.
Além disso: coragem.
Coragem de ter esperança -
Que ela não falte, te inunde,
essa tão rara e bela,
Mais corajosa das virtudes.
Porque a vida passa rápido
E os sonhos se movem devagar,
E esperança é a certeza
De que eles irão se encontrar.


J.

14.10.06

Outra da estrela perdigueira

Novena debulhada
com muito custo,
muito desespero.
Novilha desgarrada,
sem berrante,
sem berreiro.

Foi a estrela perdigueira
que me trouxe até aqui -
Não achei menino ou manjedoura,
só uma mula parda e coxa,
amarrada à um pé de caqui.

No leito do rio seco
M'encurralaram, sem saída.
Mas o leite do seio esquerdo
de Nossa Senhora de Aparecida,
Curou o que não tinha jeito
e atou as pontas partidas.

Eu sobrevivi tudo isso
só pra voltar ao começo
E me acabar de novo.

J.

12.10.06

Coisas Verdadeiras Que Saem Em Conversas De Chat - II

"I know drinking is not the answer, but it makes me forget what's the question."

("Eu sei que beber não é a resposta, mas me faz esquecer qual é a pergunta")

Essa, como a anterior, saiu em uma conversa com o Mac, meu irmão perdido na South Carolina. Já escrevi sobre ele aqui, é só procurar que você acha. Uma das figuras mais amadas da minha vida.

J.

6.10.06

Coisas Verdadeiras Que Saem Em Conversas de Chat:

"I know I have a reputation as a quick tempered person, but that ain't fair. There are 3 things for which I have endless patience for: children, animals and my lovers, which usually are a mix of the 2 previous things..."

(Eu sei que eu tenho uma reputação de esquentadinha, mas não é justo. Tem 3 coisas para as quais eu tenho paciência infindável: crianças, animais e os meus amantes, que normalmente são uma mistura das duas coisas anteriores...")
J.

2.10.06


Venha Nos Dizer
Mais uma em Mi Menor

Esse é você sorrindo
Com apenas cinco anos
E aquele é um tio
Que te olhava meio estranho
Esse é o seu diploma
Essa é a sua chance
Ah, disso você entende
Isso é coisa de gente grande

Te tiramos da forca
Que nós mesmos construímos
Agora venha e nos diga
Como você chegou a isso?

Muita calma nessa hora
Nada disso faz sentido
Isso pouco importa agora
E não se fala mais nisso
Esses eram seus amigos
Mas você arranjou outros
Essa bela te largou
Nesse mato sem cachorro.

Quem é que te visita,
O que você tem lido?
Venha agora e nos diga
Como você chegou a isso?

Desse dia em diante
Tudo isso vai mudar
Essas fotos na estante PONTE
Finalmente vão falar

Nesse caso é diferente
Me inclua fora disso
Essa nunca te amou
Mesmo assim teve o seu filho...

Esse te deve dinheiro,
Isso já perdeu a graça,
Desse mato sai coelho
Dessa vez você me paga.

Alguém te disse um dia
Que esse dia estava vindo
Então venha e nos diga
Como você chegou a isso?


J.

Show No Saloon - Dia 27 de Setembro

É incrível como as fotos podem revelar coisas sobre quem as tirou:Descobrimos que a senhora Natércia Pontes é mais uma podólotra anônima.


Eu e Nossa Senhora Da Aparecida no peito.


Diab, o leão do Líbano, em toda sua glória dourada.

(ao fundo uma pintura minha)

Um dos nossos maravilhosos homens da camêra. Agradecimentos a todos eles, que sabem que são. YouTube Maktub! Nos aguardem....

Enfim: A gente se fode, mas a gente se diverte.

SET LIST:

  1. Os Meios E Os Fins
  2. Sangue Árabe
  3. Garoto Idiota
  4. Quando Uma Mulher Chora
  5. Amor - 0/ Sem Limites (Love - 0/No Limits - Bob Dylan)*
  6. Carmim*
  7. Del Rey*
  8. Eu Mereço
  9. Flores de Abril
  10. Powderfinger (Neil Young)
  11. Blues # 12
  12. Turalulalula
  13. Estrada da Vida (Milionário E José Rico)
  14. Folsom Prison Blues (Johnny Cash)
  15. Pasárgada
  16. Rap Do Silva*(Bob Rum)

* - canções tocadas em formato acústico.

Obrigada a todos que compareceram, e esperam que tenham se divertido tanto quanto nós: Próxima parada: Melt, dia 23, Festival Gloss!

J.