19.2.07

Velha Guarda



Hoje, a 1 am - na Portela:

o REI da bateria,

o KAISER da quizumba

o IMPERADOR na batucada

o CALIFA da avenida

o SHEIK dos chocalhos,

o KZAR do Sambódramo

CAAAAAARLOOOOS LEMOS (meu avô), na velha guarda da Portela.

18.2.07

Contra o grão

Não amanhece
Sobre meu rosto
Ou no resto no copo
No que resta no corpo,
No cuspe na taça,
Quando amanhece,
Se amanhece um dia.
Como óleo no vinho
Distorcidas cores.
E culpam a luz do sol,
O soldado que atravessou
O deserto com o seu tambor
Não culpou quem não o recebeu
Culpou baquetas e o fio dental.
Coitado.
Coitadinho.
Encarando o muro,
se pergunta -
"porque não
eu?
porque
não?"

Portões jamais respondem
Contra tempestades de areia
Contra o grão maléfico;
Permanece silencioso.

Despedida Orquestrada

Você acena, as mãos,
como se regesse uma orquestra.
Com todo o drama das melodias,
De todas as partidas,
antes dessa.

Seus dedos tortos controlam,
tremem os arcos dos violinos,
pulsam a jugular do cello,
desafina,
por um compasso.

geme, grave, geme.

A dor dos cantores de tango
Entre as pernas da moça
Sua saia como cortina,

geme, o cello, geme,
O desejo que agoniza.

A orquestra toda some
Na curva da esquina
Enfiada no seu bolso,
onde um isqueiro é procurado.

17.2.07

Você Que


Eu canto pra você
que decifrou minha voz,
eu canto para esquecer
o que foi feito de nós.
A sua esmola
já não me banca
Mas sua gaiola
Ainda me tranca.

Eu penso em você
Quando
tudo te chama,
Quando a minha cama
Não quer me receber.
Vou a rodas galantes,
visito palacetes,
Brindo, beijo e danço
junto a outros cadetes.

Eu gostei de você
Que um dia disse que eu
Era a mais bonita
Que você nunca conheceu.
Outras meninas podem
Ter te conhecido
Mas se você conheceu elas
Eu nem imagino.

Um beijo pra você
Que não passa mais por aqui.
Ainda lembro bem,
nada se perdeu em mim.
Reviro os olhos pra dentro
E te vejo lá -
Mexendo no meu cabelo,
esperando a chuva passar.

6.2.07


Diálogo

H: Então, o que você queria me perguntar?

M: Você me conhece, você sabe que eu não sou a pessoa que tem respostas, eu sou a pessoa que tem perguntas. Um monte de perguntas.

H: Você nunca fez muitas perguntas para mim.

M: Eu não faço perguntas, a maior parte das perguntas não são nada além de Loucura Especulativa Feminina, são uns delírios interrogativos breves, que não valem nem a pena ser pensados, muito menos articulados.

H: Se você não tem nenhuma resposta então me faz uma pergunta. Me pergunta alguma coisa.

M: Você ainda me ama?

H: Caralho, você podia ter começado com alguma coisa tipo “qual a sua cor favorita”, ou sei lá...

M: Qual a sua cor favorita?

H: Preto.

M: Você ainda me ama?

H: Sim.

(...)

M: Viu, esse é o problema dessas perguntas, elas têm respostas, quando você tem alguma resposta você tem que fazer alguma coisa com ela. As pessoas esperam que você faça alguma coisa, é como funciona. E eu não sei o que eu faço com essa.

H: A gente faz o que a gente fazia antes.

M: Isso não serve mais pra mim.

H: O que?

M: O que a gente fazia antes. Não serve mais pra mim, eu preciso de mais.

H: Você ainda me ama?

M: Sim.

H: E o que a gente faz com isso?

M: Eu não sei, eu devia ter parado no “qual é a sua cor favorita”.