17.12.05

www.clariceestapartindo.blogspot.com

Estou postando o meu romance, Clarice Está Partindo, aos poucos nesse novo blog. Visitem, e espero que gostem!

J.
Foi Humphrey Bogart que nos levou até lá¡. E quem diria, chegamos em casa!

As jóias haviam sido roubadas e as gargantas secas reclamavam,

Os ouvidos pediam "ROBERTO CARLOS BRAGA!"

E assim se fez.




Sua Estupidez

Meu bem
Meu bem
Você tem que acreditar em mim
Ninguém pode destruir assim
Um grande amor
Näo dê ouvidos à maldade alheia
E creia
Sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo
Meu bem
Meu bem
Use a inteligência uma vez só
Quantos idiotas vivem só
Sem ter amor
E você vai ficar também sozinha
E eu sei porque
Sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo
Quantas vezes eu tentei falar
Que no mundo não há mais lugar
Prá quem toma decisões na vida sem pensa
Conte ao menos até três
Se precisar conte outra vez
Mas pense outra vez
Meu bem
Meu bem
Meu bem
Eu te amo

Meu bem
Meu bem
Sua incompreensão já é demais
Nunca vi alguém tão incapaz
De compreender
Que o meu amor é bem maior que tudo
Que existe
Mas sua estupidez não lhe deixa ver
Que eu te amo

Roberto Carlos Braga




J.&P.

12.12.05

Cena

Para o Pedro Dulci, que não gosta muito de poesia.

Externa
Luz sem dia.

Grande angular.
A mulher de lábios fúxia
Lúbrica brinca com a mangueira.
Corta para o homem no canteiro.
Zoom in no jardim,
Lento fade out negro.

Externa,
luz da tarde sem fim.

Plano sequência, estrada.
Parada, uma caminhonete.
Flash, flash back.
Crianças correndo,
Num parque lamaçento,
cheio de merda de pombo.
Volta, estrada, parada.
Fuma um cigarro antes da chuva,
Pisa com a galocha azul.

Externa,
Dia sem luz.

Nilo Amado e Seus Cantores de Ébano
-Canção de Ninar.

Ela:(entra, fecha a porta.)
Ela:(sai, a porta aberta.)
Ele:(não segue, não chora.)
Ele: "fecha a porra da porta"

Corta.

J.

Sussurro Surdo

Sussurro surdo.
Da pólvora sobre a pele
Que a ferida se feche,
Sem fazer barulho.
Sussurro surdo,
contra ouvidos alheios.
Sob o sol eu aceno
Derradeiro adeus ao guerreiro.

Toda estrada leva
Quem quer ser levado.
A lágrima quente escorrega
Na esquina esquerda do lábio.
Toda estrada leva,
pra onde ela seguir.
A distância da volta,
desejo do novo partir.

Bato na porta errada
Digo que volto mais tarde.
As grandes verdades,
são mentiras mal contadas.
Bato na porta errada
Eu sei que não moro aqui.
Mas vai, me deixa cair
no sofá da sua casa.

E eu espero passar
Eu saio em vão
Desperdiço o batom
Em quem não se importar
Eu espero passar
o que nunca passou
de tragédia sublime
de um mero pastiche
de uma canção de amor.

J.
Saber De Nada

Rainha do karaoke,
parada, copo em punho,
pernas sabor de canela,
que ela abre no escuro.
Garota avaliada
em 10 kilos de rubis,
ovelha desgarrada -
o pastor não está aqui.

Num trapézio, numa torre,
Numa super estrutura,
ela cai e quebra a asa,
e perde o jogo de cintura.
Um passarinho verde,
pousado em seu ombro -
Um gole é para sede,
outro é pra Santo Antônio.

Ela não sabe mais
Voltar para casa -
Ela não quer mais
saber de nada.

Saiu para comprar cigarros
(esqueceu que não fumava)
Já estava muito longe
e não sabia onde estava.
Cigana nata no exílio,
o seu destino é surdo,
Não ouve os seus reclames
e te leva pelo mundo.

Agora anjo trajando jeans
E óculos escuros
Uma carta em seu bolso
Dá as costas para o mundo.
Um batom e um espelho
Numa beira de estrada
Pinta os lábios, esconde o medo
Que cobre a boca pálida.

E agora ela respira
Algo mais leve que o ar,
Fecha os olhos e faz mira,
Leva o que acertar.
Pensam que ela esqueceu
Mas nada se perde nela -
Veja olhos escancarados
E as unhas amarelas.

E ela não sabe mais
Voltar pra casa.
E ela não quer mais
Saber de nada.

J.

Sobre Lençóis

Sob lençóis,
entre os sonhos
que sonhei
sobre lençóis
Entre as verdades
Eu te afronto
Com o desejo
Como nós

Entre espécies
Mal servidas
Nas bandejas
Do bufê
As amantes
Mal comidas
Que não sabem
Seu porque

Eu não entro
nessa fila
Eu tenho
A preferência
De ser uma
Uma menina
Caridade
Paciência

De se dar
Aos poucos
Antes de tudo
Ser tão mínimo
De não ser
De nenhum outro
Derramar-se
Com o vinho -

sobre os lençóis
sob os lençóis
Que cobrem sonhos
Protegem vícios -.

J.
Poeira Cobre (Ainda Distante Da Broca)

Cartilagens mastigadas,
Bobinas fósseis,
alimentam engrenagens
Que se desfazem.
E só sobra pó de ferrugem,
Poeira ruiva tetânica,
a migalha instantânea
de uma cor e um ruído
-Restilho de cobre,
Detrito,
Preso a roda dentada.
Fundido na sola das botas,
Um resto de estanho opaco,
Um diamante marmorizado,
Ainda distante da broca.

J.
Cerimônia

E o que você vai fazer agora,
com o seu coraçãozinho empalhado?
Com essa sua faca sem fio,
Com essas suas gaiolas sem porta...
O que você vai fazer agora?
Você pode querer qualquer coisa.
O seu desejo pode alcançar o mundo
E jamais ser retribuído.

A sua mãe, ela está no altar
ao lado de um cambista falido
que insite em te chamar de filho,
que cospe esmolas generosas
para prostitutas bem vestidas.
O bouquet infeliz cai aos seus pés,
as debutantes mergulham para alcança-lo
Uma flor de vermelho-além-do-sangue
cravada em sua lapela.

Nada te comove mais.

J.

6.12.05

O velho

Não há muito o que ser dito a seu respeito. Era um sujeito baixo, mas era mais alto que o outro, este era praticamente um anão. Mas bem proporcionado. Ele tinha menos cabelos que o outro, e eram brancos. Sua pele era clara e enrugada, a do outro era marrom e lisa. Quase não conversavam entre si. Quando falavam era sobre o trabalho que realizavam. Falavam de questões práticas e imediatas, não perdiam tempo com conversa. Estavam sempre com a obra atrasada, deveriam estar perdendo tempo com alguma coisa, mas não era com conversa.
Mas no primeiro dia o velho não apareceu. Era um nordestino alto, de cara chupada, que acompanhava o mulato tampinha. Ambos usavam bonés feios. O nordestino tinha os olhos opacos, amarelados, ovais. Os braços magros e compridos pendiam ao longo do corpo, pareciam um par de muletas. Tinha sempre na cara certo ar de contemplação apática, estupefata. Um olhar bovino, como o de uma vaca que masca capim despreocupada. Ele não mascava capim, mas remoia algum pensamento fibroso dentro daquela sua grande cabeça chata coroada por um boné feio.
O mulato e o nordestino tiraram todos os móveis da sala. Eu assisti eles trabalharem até o último móvel – a cadeira aonde eu estava sentada bordando – ser retirado da sala. O mulato era compacto, robusto, os ombros largos. Carregava tudo com facilidade, gingando de um lado para o outro sob o peso de uma poltrona. Existia algo de audacioso nele. Como ousava um sujeito de tal pequenez conseguir carregar uma poltrona tão grande? Ele estava sempre esboçando um quase sorriso, como as pessoas que mentem sem talento para a mentira. Parecia um jeguezinho, um jegue perseverante.
O nordestino se movia muito lentamente, os braços sempre caídos ao longo do corpo magro não balançavam. Quase não piscava, sempre olhando estaticamente para frente. Parecia não dormir há dias. Carregava as coisas nas costas, todo torto, como um galho de bambu dobrado. As pernas compridas dobradas, todo torto, com exceção da cabeça que sempre estava reta, apoiada sobre o pescoço fino. Tinha a pele amarelada como seu branco dos olhos. Parecia um camelo, um camelo sobrecarregado.
Eu ofereci água a eles depois de levarem minha cadeira. O mulato sorriu, levantou o boné e passou as costas da mão pela ampla testa suada. Aceitava, sim. Olhava o nordestino de canto de olho. O camelo nordestino também tinha sede. Trouxe dois copos enormes para os homens. O mulato bebia aos poucos, levantava os olhos e sorria – a água tá gelada – sorriu novamente para mostrar que isso o agradava. O nordestino bebeu tudo de um gole só. Seu pescoço magro arqueado, a cabeça jogada para trás, o pomo de adão saliente se movia lentamente. Baixou a cabeça e estendeu o braço que segurava o copo vazio em um movimento só, como se o braço fosse uma alavanca do pescoço. O mulato terminou de beber e também me entregou o copo. Agradeceu. O nordestino lembrou de fazer o mesmo.
Os homens se sentaram em um canto da sala vazia. Tinham trazido marmitas, comida em pequenos potes plásticos. Sim, temos um microondas, eu esquento pra vocês, que é isso, não tem problema nenhum. Retornei a sala com marmitas fumegantes. O mulato comia macarrão com feijão e carne moída, o nordestino comia algo que eu identifiquei como angu. Entreguei as marmitas a seus respectivos donos. O nordestino só agradeceu depois do mulato. Sempre esquecia. Também forneci talheres ao mulato, que tinha somente uma colher de plástico. Ele agradeceu. O nordestino também agradeceu, condicionado a dizer “obrigado” sempre que o mulato o fazia. Eu sai e deixei os homens comerem em paz. Não queria que eles se sentissem na obrigação de dizer qualquer coisa para mim, de puxar assunto.
No dia seguinte veio o velho acompanhando o mulato. O velho não usava boné. Perguntei pelo nordestino e o mulato me informou que ele tinha outro trabalho. O velho tinha os olhos negros, grandes, duas bolotas negras redondas, quase não se via o branco dos olhos dele. O nariz grande, redondo, a pele clara, cheia de vincos e rugas. Devia ter pouco mais de 60 anos. Sorriu ao me ver, por cortesia. Eu sorri, por cortesia. O mulato sorria sempre, não precisava de motivos corteses.
Eles começaram a arrancar as longas placas de fórmica branca do chão. Isso é, fórmica que um dia havia sido branca. Agora era bege. Algumas saiam fácil, essas eles arrancavam com as mãos nuas, cada um em uma extremidade da placa. Outras eram difíceis de arrancar. Nessas eles usavam uma espátula. Agachados de quatro enfiavam a espátula entre a fórmica e o chão. O velho trabalhava com vigor, como que determinado a provar que sua idade não era qualquer empecilho. Era elegante, o velho, tinha os gestos controlados. Como um esgrimista, um espadista. Os sabristas são mais violentos e expansivos. Espadista, definitivamente.
Sentaram para comer sobre o chão de madeira escura. Ambos tinham marmitas. Esquentei a do mulato, dessa vez ele comia bife acebolado com arroz, feijão e batata fria. O velho não queria que esquentasse a marmita dele. Comeu seu purê de batata com salsinha e arroz, tudo frio. Dei água aos homens. Ofereci suco, mas queriam água. Acho que ficaram sem jeito de aceitar o suco. Mas não tinha problema não, eu gosto de agradar. Voltei com a água e o mulato puxou papo. Falava da minha rua, como era agradável, como era fresquinho ali. Eu morava ali a muitos anos. Quis saber onde ele morava. São Cristóvão. E o velho? Caxias. Caxias é longe. Ele pega três ônibus para chegar na zona sul. É chão. O velho não era carioca, o mulato era. O velho tinha um sotaque esquisito. Tinha os Ss de mineiro, mas comia letras como os nordestinos. Usava muitos diminutivos, como os mineiros, mas ao mesmo tempo dizia que o calor (calô), estava arretado. Ele tinha nascido no Rio Grande do Norte, mas morou muito tempo em Minas. Tenho família lá, no Rio Grande do Norte. Não vou lá há anos. Ele também não vai lá há anos. Ainda tem um irmão lá. Não vê o irmão há anos. Mais anos do que eu tenho de vida. Como eu sou nova. Sou nova sim. 17 anos. Pareço que tenho 20, para o velho. O mulato achou que eu tinha 16. Não gosto muito de conversar com o mulato, ele flerta comigo, de um jeito que nem pode ser acusado de flerte. Mas é flerte sim, elogia meus olhos, um esboço de sorriso sempre apertado no canto da boca. Gosto de conversar com o velho. Ele tem outro irmão, lá em Minas, me contou a estória – entrou em um bar para tomar uns tragos assim que chegou em Minas. Era uma cidade média, Araxá. Nunca tinha ouvido falar. O velho fez uns trabalhos lá. Depois do serviço é que ele foi tomar o trago. Ficou numa mesa do lado de fora. Bebeu uma dose de pinga. Pinga boa, a mineira. Bebeu outra. E quando enfiou a mão no bolso encontrou um buraco, e só um buraco. Não tinha nem um centavo, não tinha como pagar. Entrou no bar para expor a situação ao dono do bar. Ele disse isso mesmo, “expor a situação”, eu não estou enfeitando. Então, quem ele encontra atrás do balcão do bar? Um irmão dele! Ele tem três irmãos. Que sorte, que estória ótima. Morou em Araxá muito tempo, trabalhando com o irmão no bar. Estava sempre cheio. Aí teve uma briga no bar. Um caboclo puxou uma pistola 38 e deu 5 tiros em um sujeito. Não estava bêbado nem nada. O homem caiu e morreu na hora. Nem chamaram médico, morreu na horinha. Fecharam o bar por uma semana. Quando abriram de novo ninguém veio. Ficaram abertos por uma semana, ninguém veio. Fechou o bar, faliu. Aí o velho arranjou um trabalho no Rio, com um primo dele que morava aqui. Veio pro Rio, voltou a trabalhar em construção. Gostava mais do que trabalhar no bar. Bar é pra se divertir, não é pra trabalhar. O mulato trabalhou em construção sempre. Não, mentira, trabalhou de manobrista em um restaurante de bacana. Lá na Barra. Não gostava, tratavam ele mal.
Eles começaram a botar a fórmica nova. Eu sai da sala, queria deixa-los trabalhar em paz, e não queria dar muito assunto pro mulato. Algumas horas depois o velho me chamou no corredor. Dona, dona. Veio me avisar que estavam indo, voltavam de manhã, já estava quase terminando. Fui até a sala. O mulato estava parado do lado da porta, segurando sua mala. O velho se juntou a ele, eu abri a porta e saíram. Até amanhã, até amanhã. Fechei a porta e olhei a sala. Metade estava coberta por uma impecável fórmica branca.
No dia seguinte voltaram, o velho e o mulato. O nome do velho era Luís, o nome do mulato era Elton. Sempre esquecia o nome dele, mas não esquecia o nome do velho. Eu lembrava, por causa da música. “Oh Luiz, respeita Januário, o Luís respeita Januário”. Cantei pro velho, ele riu. Achou engraçado eu conhecer a música. Eu sai da sala, só voltei ao meio dia, essa era a hora que eles paravam para comer. Esquentei a marmita do mulato. Era bife acebolado de novo. Dessa vez aceitaram o suco, mas só por que eu insisti. O velho comeu arroz, feijão e frango, tudo frio. Perguntei por que ele não esquentava. Para que esquentar se eu vou ter que esperar esfriar para comer? Fazia sentido. Achei o velho muito sabido.
Terminaram naquele dia mesmo. Eles botaram tudo no lugar direitinho, fiquei impressionada como o mulato lembrava onde tudo estava. Só erraram a posição da poltrona. Mas ficou melhor aonde eles botaram. Paguei os homens. Lembrei o nome do mulato e me despedi deles. Tchau Seu Luís, tchau Elton. Quase esqueci de agradecer, mas lembrei antes de fechar a porta.


J.

5.12.05

Poemeto Erótico #6

Nada
Entre nós agora

O delta de luz
De corpos nus
Entre nós agora.

Respirar
Respirar o seu cheiro
O ar
Galopa em meu peito
Ritmo perfeito
A mente dilata.

Assim
Curvas fechadas
Assim
Rasante de pássaros
As asas me tocam
Pólvora na pele.

Explode
Uma estrela oca
No céu
Da minha boca
O meu oceano
Em um conta gotas.


J.
Poemeto Erótico #1

Quero morder
Seu pomo de adão
Como Eva fez
Morder sem perdão

Cubo de gelo
Na boca morna
Derrete, escancara
as pétalas da rosa.

Te quero forte,
Te quero homem.
Me jogue e rosne
E me abandone.

Não me abandone.

J.

4.12.05

Poemeto Erótico #3

Quero atar suas mãos,
vendar seus olhos;
Para que você não saiba
Onde tocam os meus lábios.

sósinta.

O meu desejo, é inútil.
Ele me mata e não morre.
O meu prazer é lúbrico.
Meu corpo me engole.

Quero que você não veja
Antes que fique cego,
Engula o fruto, cuspa a semente,
Vou te dar o que eu quero.

Vou te dar
O que eu
Quero.

J.
Penhasco

O céu não estende as mãos
Para nenhum suicida.

J.
Diálogo #1

Ele: Como vai?
Ela: Está tudo bem, graças a Deus.
(Pausa)
Ela: E você?
Ele: Eu vou indo...
Ela: É indo que a gente vai...