Queria
Vê-los
(dar-lhes
Looking back at
O triste negar do olhar,
De
Looking back at
Belíssimo
A
As
E
E
Staring back at
Olhei
E estudei,
A
A
A
Da
A
De
Queria
Vê-los
(dar-lhes
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O triste negar do olhar,
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Belíssimo
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E
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Olhei
E estudei,
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De
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
– Eu faço versos como quem morre.
(Manuel Bandeira – A Cinza das Horas – Teresópolis, 1912)
Eu li esse poema pela primeira vez quando eu tinha 12 anos - li no Estrela da Vida Inteira, um livro de capa púrpura que me acompanhou pelo resto da vida. Li, reli e decorei, sem querer, querendo.Entre el desierto
Y el más bello espejismo
Encontrábase el palacio.
Allí él fue bautizado
Y recibió su nuevo nombre
De los labios de una mujer.
(La cortesana de un reino partido)
No lo fue revelado,
Lo que él quería tener
No podía ser poseído.
Se quedó
Bajo las garras de un tigre:
Un flagelo inútil.
El sol cegó sus ojos,
Las escarpas conspiraban.
Cultura Afro é o Escambau
A nossa auto-depreciação enquanto povo é tão ridícula que nós queremos dar crédito que é nosso aos outros – eu estou cansada do termo “cultura afro”. Em primeiro lugar porque a África não é um país, e sim um continente, e se referir a ela como uma massa cultural única é, no mínimo, estúpido. De quem estamos falando? Dos negros mulçumanos do Sudão? Dos egípcios? Dos iorubas de Benin e da Nigéria?
Existe um forte movimento hoje de qualificar coisas brasileiras, coisas maravilhosas que pertencem ao nosso povo, como uma representação da cultura africana. Samba não é afro-brasileiro. É brasileiro, ponto, foi feito aqui, não chegou pronto. Muitos dos mesmos povos que desembarcaram no Brasil (todos da costa ocidental da África), também chegaram em outros lugares –Cuba, por exemplo. Lá deu mambo e salsa, aqui deu samba. É lógico que o samba não existiria sem os povos negros, mas também não existiria sem os índios (que recebem tão pouco crédito pela nossa cultura), os portugueses, etc. Será que para valorizar uma cor de pele a gente precisa depreciar uma nação inteira? Porque não se diz simplesmente “cultura brasileira”, o que inclui absolutamente todos nós? Isso é só mais um sintoma da legendária baixa-estima do povo brasileiro – a gente prefere dar crédito a um outro continente do que a nós mesmos (“pra ser bom tem que ter vindo de fora”). E, mais uma vez, a merda da teoria da jabuticaba prevalece.
No Brasil nós estamos tão preocupados em categoricamente “gongar” o nosso patrimônio histórico, que nem paramos para ver o que a gente tem de bom, e como é que isso foi feito. A gente tem que estar aplaudindo Pedro I, que brigou com tudo e todos para ficar aqui, nesse país; mas nós dispensamos esse ato que não demonstra nada além de bravura para acreditar que ele tinha interesses escusos. Nós devíamos estar tirando o chapéu para Pedro II, que sofreu para aprender Guarani. Ele precisava saber guarani? Não. Mas a gente prefere descartar ele como um “banana”. Marechal Rondon é outro. O cara passou a vida inteira tentando estabelecer relações pacíficas com diversas tribos, muitas das quais queriam ver ele escalpelado. Zumbi é outro - um herói brasileiro, não um herói africano. Ele nasceu em Pernambuco, né?
A gente muito que melhorar, mas para melhorar é preciso acreditar nesse país – e acreditar nesse país significa valorizar o que veio antes da gente. E o que está aqui agora também. Quem fala mal de funcionário público? Todo mundo. Quem é aquela gente no INCA, no Itamaraty, na Fundação Oswaldo Cruz? Funcionários públicos. Essa gente dá o exemplo diariamente – e quando você chama a atenção para o bom exemplo ele, muito lentamente, se torna o que é esperado. Enquanto depreciar for mais importante que apreciar, as coisas não melhorarão.
La sangría es necesaria
El cuchillo
Y el cuenco
La sangría es necesaria
Sangre preso,
Sangre lodo,
Él precisa salir
En el hocico
De un lobo,
En la espada
Del visir.
Efendi, efendi,
Yo destruí un sueño:
Mi derviche
Del tesoro triste,
Mi cariño, mi esfinge.
Ritualmente nos ajoelhamos para pedir pelo que os outros nem pensam
Nós suamos de fora para dentro. A pele absorve, a pele multiplica e devolve. A minha alergia forma padrões em alto relevo nas minhas coxas; parecem caracteres japoneses. Os dos braços parecem hebraico. Os da anca, árabe. O meu corpo quer falar comigo mas eu não consigo decifrá-lo. Apenas coço e tento apagar os recados. Quem sabe ler o que está escrito na pele do tigre?
Faz mais de quatro anos que eu tenho essa alergia.
A dermatologista me encaminhou, de cara, para um alergista. O alergista fez testes, descobriu só o que eu já sabia. E deu, depois de três consultas, o diagnóstico formal da ignorância médica: “Deve ser psicológico”.
Eu não fui ao psicólogo, apenas aumentei a dose do antialérgico que eu tomo diariamente. Não tem efeitos colaterais, não dá sono. Mas eu imagino se um dia, pelo acúmulo de anos de antialérgicos, eu talvez me torne estéril, ou desenvolva um câncer nos rins.
Psicológico é o cacete. Depois de quatro anos ainda apresento os mesmos sintomas quando desvencilhada do Hixizine. Que estado de espírito ou enquadramento mental sobrevive quatro anos sem alterações? Eu te digo: Nenhum. No parapeito ou no pódio, eu me coço.
Eu desisti e, no processo de desistir, aprendi a viver assim. Calo o meu corpo com dois comprimidos diários. Alguma coisa vive sob a minha pele. Não posso matá-la, mas consigo calá-la diariamente. E isso é bom o bastante para mim.
Aqui, na presença de olhos pardos, aqui, na eminência de olhos azuis, enfim, na incerteza de olhos que mudam de cor. Ele abrigava, sob os cílios, um segredo inconfessável. Piscava e se desfazia do último reflexo que os olhos contiveram. Pra onde foi? Ele não diz, é segredo de estado de espírito. Os olhos ruminam, regurgitam o que ele já viu; estão fechados.
Doa suas dores
E dói elas sozinho.
Desfiando a navalha
Com dentes de bronze e prata
Quase não sangra
E se sangra
Sangra frio.
Inalou o suor
Doce do cajueiro
E saiu um dia dizendo
Que ia matar um homem.
Assolou um quarto de hotel.
Rezando ele me jurou
Que era homem de bem –
Tola que sou, tola que sou,
Eu acreditei.
E descobriu-se bela...
O abandono da identidade X uma aceitação da beleza
Sendo maquiada para o olho implacável da câmera, sinto repulsa pelo meu “dia de rainha”. Mãos alheias ao meu corpo, e a unidade que ele representa, me manipulam para tornar minha imagem bela. Minhas sobrancelhas, e todos os meus demais pêlos, são depenados, minha pele arde, sufocada pela quarta camada de reboco cosmético. A chapinha de cerâmica arranca fios e mais fios do meu cabelo a cada nova investida, o curvex besuntado de rímel arranca cílios. Minhas perenes olheiras (fossos, na verdade) são comentadas e batalhadas, a penugem sobre os meus lábios é combatida com medidas drásticas. O secador queima o meu couro cabeludo, o difusor inferniza as minhas orelhas. Minhas unhas são inapropriadas, meus pés são demasiado brutos. Me recomendam que, durante a filmagem, eu não erga os braços para não expor um começo de pêlos sob a axila que não é louvável. Sentada em meu trono, não sinto tristeza, frustração ou raiva. Conforme constroem minha imagem bela o que eu sinto é a minha ausência e um leve enfado.
Terminada a guerra contra os meus defeitos, me vejo no espelho e me descubro bela. É um choque – a realização do meu potencial para uma beleza tão “segura” e controlada me assusta. É uma beleza que não corre riscos, inegável. Esse choque inicial é seguido por um inchaço significativo do ego perante a minha possibilidade de representar essa beleza. Eu não sou essa beleza, eu a represento. “Se eu me maquiar assim, se eliminar tal e tal coisa, se esconder isso e aquilo, seria bela.” Mas, como não faço e não sou assim, me sinto feia – todas as impressões anteriores da minha beleza (numa fotografia em que apareço particularmente bem, na lisonja rasgada de um amante), me parecem falsas. Aquela é a real beleza, pois foi construída metodicamente dessa forma. As minhas construções não são nem tão metódicas, bem realizadas ou totalmente dedicadas.
Aqui, emplastada com quilos de corretivos e atenuantes, represento a beleza, e isso faz eu perceber que não sou bela. Se tenho que a representar, não a sou. Sou uma personagem sem falas, sem motivação além do ser bela. Isso me entedia, me entristece, apesar de uma relutante alegria em abraçar esse papel. Tudo isso é uma espécie de transplante de alma: sou bela, sou outra, sou imagem criada por mãos que não são minhas, por um conceito de beleza que não é meu. A alegria e a tristeza se chocam e eu não sei se estou vestindo um véu, ou se esse véu foi erguido.
Eu vim das canções. Cheguei ao Jardim da Flor Fatal através delas, de uma canção tão antiga quanto o tempo. Admito ter pegado carona na literatura para chegar mais rápido, pois eu tinha muita pressa. Vim na garupa de Lautreamont, vim guiada pela luz negra de Manuel Bandeira, vim ouvindo Muddy Waters e Nelson Cavaquinho. Na paisagem vi Kentridge, Doig, Edward Gorey, Leonilson e tantos outros.
Eu ouvi em uma canção do Bob Dylan que “behind every beautiful thing, there’s been some kind of pain.” Eu li, num poema do Manuel Bandeira , que a beleza é um conceito, é triste, não por si só, mas pela incerteza e a fragilidade que ela contém. Eu acredito que a beleza e a verdade sejam irmãs, gêmeas idênticas. E talvez a coisa triste por trás da beleza seja a verdade, que nós não podemos tocar, que pertence só a Deus e que, para nós mortais, é incerta e frágil. Mas não há tanto drama nisso, não há drama o bastante para anular a beleza que toda dor reflete. E eu não estou aqui para provar o drama e a dor, nem para negá-los. E, nesse processo, eu também me vejo incapaz de negar a beleza, ou frisá-la. Isso é trabalho de gente que se leva a sério o que, felizmente (ou infelizmente), não é o meu caso.
Eu pesquiso a beleza perigosa, a beleza fatal da flor venenosa que não se contenta em ser apenas bela. Esse jardim não é o das delícias, esse é o jardim das coisas que podem te matar – a peçonha, a tristeza, a dor, a solidão. E eu tenho a sorte de não conhecer a tristeza e a angustia da fome, das grandes desgraças pessoais. As minhas pequenas desgraças pessoais são de cunho romântico, e são elas que aparecem como alegoria de tudo o que é triste.
Mas como eu não me levo a sério, eu preciso avacalhar. Aí entra o papel, aí entra o desenho despretensioso, aí entra o senso de humor sardônico.
O texto se funde com a pintura em diversos momentos, e por diversos motivos. Às vezes uma frase ilustrativa, redundante, que frisa o senso de humor da artista. Os textos também são explorados como recurso visual, traçinhos que compõe a pintura. E o texto também é complemento poético para a pintura desprovida de leveza. Sempre legível apesar de precário. Recomenda-se a leitura.
O resultado de uma pintura que navega entre o expressionismo e o popular que, apesar do pesado conteúdo intelectual, é decifrável ao olho nu e inculto e não requer o filtro das idéias. Eu venho para falar das coisas que existem desde o primeiro jardim, da onde fomos expulsos, a natureza humana que gera toda a beleza e o horror do mundo.
De simplicidade e de angustia,
Do desejo pelo que nunca pode ser,
Pelo que nunca irá ser,
Pelo que não tem como ser.
Daqui eu parto,
E é aqui que eu termino.
Se você ainda tem o que desejar.
E é tão triste que chega a ser engraçado.
Essas canções que podem
Ser cômicas às três da tarde,
Quando você tem com o que se distrair;
E que te engolem e te vomitam
Toda molhada de lágrimas,
Na solidão das três da manhã.
Essas são essas canções.
(O rabino me disse, ao me ver tão triste, saindo do Shabat:
“Se sempre dá pra ficar pior, o pior nunca acontece.”
Eu olhei pra ele com um misto de rancor e admiração –
Por que como consolo isso é uma merda,
Mas como máxima, não pode ser negada).
Podem por fogo em todas as minhas coisas.
Eu não sei existir de outro jeito,
Eu não vou me desapegar,
Eu vou continuar sendo a burra,
A babaca que se apega, que ama,
Que não quer que você vá embora.
Amor é medo de perder,
Amor é medo de perder,
Não é desapego, eu repito,
Eu não vou me desapegar.
Wild, wild horses
Couldn’t drag me away.
1- Vouloir – Julia Debasse
“Velours, je avais attendu
Venes couvrir cette croix
Velours, enfin vennu
Je avais etrê aveugle avec toi”
Sempre sentia subir pela espinha. Sem pressa, uma peça de cada vez, deixa o desejo crescer até ficar insuportável - a rasante do corvo, as asas tocando o vale que divide as minhas costas. O rastilho de pólvora estava ali, no vale, onde os seus dedos se enfiavam para me segurar. O rastilho de pólvora ligava a pélvis até a base da nuca, era muito claro. Morno e circular, os beijos e o movimento dos quadris. Contornos feitos com dedos e línguas.
Se afastar do palco por alguém.
Volta que a platéia te reclama,
Sei que choras palhaço,
Por alguém que não te ama.”
3- That’s Life – Frank Sinatra
You're riding high in April,
Shot down in May
But I know I'm gonna change that tune,
When I'm back on top, back on top in June.”
4- Everybody Out Of The Water – The Wallflowers
There’s something moving around in here.
Well, that’s blood, that’s tears,
This ain’t warning :
Everybody out of the water.”
5- Sentado À Beira Do Caminho – Erasmo Carlos e Roberto Carlos
se confunde em minha frente
minha sombra me acompanha
e vê que eu estou morrendo lentamente"
Beiras de estrada são o Limbo, estão sempre no meio do caminho. Lá dentro não dá pra saber quem está indo ou quem está voltando. Por mais variada que seja a fauna, ficamos todos iguais sob a luz fria que enfeia sem perdão, entre as bugigangas e as lembrancinhas de última hora. Somos todos crianças não batizadas, com a boca cheia de salgado e café requentado. Todo mundo tem que dar cinqüenta centavos para que a ex-puta te entregue um macinho de papel e te deixe usar o banheiro. Lá dentro as mulheres tentam se reconhecer no espelho.
I lived long enough and I ain't scared of dying.
Who do you love? Who do you love? Who do you love?”
Quem você ama? Em que porto está o seu coração?
Eu fiz construí a minha casa com os ossos de cavalo. As vigas são feitas de espinha de cascavel. Cuidado aqui, limpe bem os pés antes de entrar.
I used to count on you.”
8- Jezebel - Charles Aznavour
Ce démon qui brûlait mon cœur
Cet ange qui séchait mes pleurs
C'était toi, Jezebel, c'était toi.”
Jezebel governa um Adão ganancioso. Se ele morre, tem sempre outro na fila. Maridos, filhos, irmãos. A fila anda, comandada pelos olhos de naja de Jezebel. Irmã de Salomé, prima de Dalila, filha de Eva, ex-costela que ainda vive no corpo dos homens. Ela orquestra as guerras movendo os braços com gestos graciosos. Sorrindo, retoca a maquilagem para morrer bonita.
Be with you night and day
Nothing changes
On New Year's Day”
Nós vamos te levar para a praia, vamos te botar naquela fila de pessoas vestidas de branco. Elas estão esperando para receber um passe daquela mulher com o turbante que está segurando palmas. Brancas, as palmas e, é claro, o turbante. Talvez depois do passe você consiga nos enxergar e ficar feliz por estarmos aqui. Pare de pensar em quem não está.
Perdemos um dos nossos! – ele se afastou para urinar e não voltou mais. Nós só vamos saber disso amanhã, mas ele dormiu no jardim em frente ao edifício Chopin, se arranhou todo numas plantas espinhentas que tem lá. Você vai estar miserável, de ressaca, mas vai rir disso mesmo assim. “No Chopin?” e vai rir e sentir a cabeça latejar. “No Chopin! Eu acho que vi a Narcisa!”. E todos vão rir como no final de um desenho animado da Liga da Justiça.
2- Dreams – Fleetwood Mac
“Thunder only happens when it's raining
Players only love you when they're playing
Women they will come and they will go
When the rain washes you clean you'll know”
4- The Song Is Still Slipping Away – Shooter Jennings
And the light in the tunnel that you're chasing is a train
The singer's in key the guitars in tune
But the song is still slipping away”
5- Solidão – Cascatinha & Inhana
Tudo é solidão
Ela já morreu
E a brisa sem dó
Apagou no pó
O rastinho seu.”
1 Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? por que estás afastado de me auxiliar, e das palavras do meu bramido?
2 Deus meu, eu clamo de dia, porém tu não me ouves; também de noite, mas não acho sossego.
3 Contudo tu és santo, entronizado sobre os louvores de Israel.
4 Em ti confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste.
5 A ti clamaram, e foram salvos; em ti confiaram, e não foram confundidos.
6 Mas eu sou verme, e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo.
7 Todos os que me vêem zombam de mim, arreganham os beiços e meneiam a cabeça, dizendo:
8 Confiou no Senhor; que ele o livre; que ele o salve, pois que nele tem prazer.
9 Mas tu és o que me tiraste da madre; o que me preservaste, estando eu ainda aos seios de minha mãe.
10 Nos teus braços fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe.
11 Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem acuda.
12 Muitos touros me cercam; fortes touros de Basã me rodeiam.
13 Abrem contra mim sua boca, como um leão que despedaça e que ruge.
14 Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas.
15 A minha força secou-se como um caco e a língua se me pega ao paladar; tu me puseste no pó da morte.
16 Pois cães me rodeiam; um ajuntamento de malfeitores me cerca; transpassaram-me as mãos e os pés.
17 Posso contar todos os meus ossos. Eles me olham e ficam a mirar-me.
18 Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançam sortes.
19 Mas tu, Senhor, não te alongues de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me.
20 Livra-me da espada, e a minha vida do poder do cão.
21 Salva-me da boca do leão, sim, livra-me dos chifres do boi selvagem.
22 Então anunciarei o teu nome aos meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação.
23 Vós, que temeis ao Senhor, louvai-o; todos vós, filhos de Jacó, glorificai-o; temei-o todos vós, descendência de Israel.
24 Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem dele escondeu o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu.
25 De ti vem o meu louvor na grande congregação; pagarei os meus votos perante os que o temem.
26 Os mansos comerão e se fartarão; louvarão ao Senhor os que o buscam. Que o vosso coração viva eternamente!
27 Todos os limites da terra se lembrarão e se converterão ao Senhor, e diante dele adorarão todas as famílias das nações.
28 Porque o domínio é do Senhor, e ele reina sobre as nações.
29 Todos os grandes da terra comerão e adorarão, e todos os que descem ao pó se prostrarão perante ele, os que não podem reter a sua vida.
30 A posteridade o servirá; falar-se-á do Senhor à geração vindoura.
31 Chegarão e anunciarão a justiça dele; a um povo que há de nascer contarão o que ele fez.Existem algumas pessoas em certos cargos ou profissões que, aparentemente, faltaram no primeiro dia de trabalho, ou não receberam o memorando que apresentava a elas os deveres e a idéia geral por trás do que elas estão fazendo. Essas pessoas não são necessariamente maus empregados, eles simplesmente não entenderam.
Porteiros – o cara do prédio da minha mãe acaba comigo. Ele está lá há alguns meses, e ainda não entendeu. Na verdade, eu suspeito que ele tenha escolhido a carreira errada. O sujeito fica lá, sentado entre o portão e a porta. Ele arrastou uma cadeira para segurar a porta inclusive, que é pra ele não ter que abrir ela e se focar inteiramente no portão. Sem problemas, eu não sou uma pessoa que escolhe a estética contra a praticidade. Eu não sei o que está acontecendo com aquele cara: vai ver ele e está fazendo algum treinamento telepático, está tentando aprender a abrir o portão com o poder do pensamento. O fato é que ele nunca, jamais, se levanta para abri-lo. E esse não é um desses portões eletrônicos, controle remoto. Alguém realmente precisa enfiar uma chave, girar e puxar. Ele não se comove com o fato de você estar carregando três sacos de supermercado, ou uma bicicleta. O homem está lá, tal qual uma montanha, irremovível, encarando o portão. Eu acho que ele nasceu pra ser recepcionista de elevador. Está na cara. Ele tentou a coisa mais perto que tinha, porteiro, mas tem essa inconveniência de ter que se levantar. Mas nada disso vai impedir que ele viva o seu sonho de ser recepcionista. A fé pode até mover montanhas, mas não move aquele homem.
Seguranças – O sujeito contrata o segurança. Diz pra ele “O negócio é o seguinte, Átila, você tem que manter tudo por aqui em paz, não deixar ninguém incomodar ninguém, evitar que as pessoas se batam.”. É isso aí. E eu imagino que, em um dia particularmente pacífico, o trabalho de Átila seja meio frustrante. Afinal de contas, se a paz reina sem a sua interferência, ele realmente não está fazendo o trabalho dele. Então o que ele faz? Ele cria uma situação em que os seus dotes físicos sejam necessários. Ele compra uma briga. O que Átila não entendeu foi o conceito de só fazer alguma coisa quando alguma coisa for necessária. Ele não entendeu que se está tudo bem, ele realmente não deve fazer nada, apenas estar preparado para alguma eventualidade mais violenta – que essa também é uma forma de estar cumprindo com as suas obrigações. Ele é o oposto do porteiro da casa da minha mãe – ele não é um empregado ruim, ele dedicado demais.
Taxistas:
Ele: O CAP? Claro, claro.
Eu: Ótimo, eu vou para um prédio do lado do CAP.
Ele: Tem uma Igreja ali perto, né?
Eu: É, tem sim.
(Começamos a rodar – eu estou ouvindo o meu Ipod e não estou prestando muita atenção. O carro para. Eu olho pra fora e vejo o prédio da Obra do Berço.)
(Eu olho pra fora com um olhar de que porra é essa. Eu olho o prédio da Obra do Berço, eu penso nas iniciais. ODB. Eu queria ir pro CAP. Eu repasso a conversa que eu tive com o meu amigo ali. Sim, eu tenho certeza que eu pedi pra ir pro CAP.)
Eu: Chefe, isso daqui não é o CAP. É a Obra do Berço.
(saio, bato a porta).