Na Eminência (título provisório)
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Aqui, na presença de olhos pardos, aqui, na eminência de olhos azuis, enfim, na incerteza de olhos que mudam de cor. Ele abrigava, sob os cílios, um segredo inconfessável. Piscava e se desfazia do último reflexo que os olhos contiveram. Pra onde foi? Ele não diz, é segredo de estado de espírito. Os olhos ruminam, regurgitam o que ele já viu; estão fechados.
Em Copacabana faz um frio estrangeiro. No ônibus, no metrô, nos espaços fechados, sentimos o cheiro de mofo e naftalina exalados pelos agasalhos inutilizados há tanto tempo. Todos têm cheiro de gaveta de avó, todos parecem que acabaram de desembarcar de São Paulo. O hálito de mentol do inverno nos transformou em estranhos bem vestidos. O porteiro me confessa que está usando polainas. Eu acho que é um certo exagero, mas considero a possibilidade de estar subestimando o frio que eu sinto. Em casa visto polainas. Faz sentido, já tinha esquecido como era não sentir frio.
Uma vez eu queimei muito a pele, uma vez eu fiquei muito doente com intoxicação alimentar. Eu não lembrava como era ser tocada sem sentir dor, eu não lembrava o que era sentir fome. Quando eu morrer, quando eu não respirar, eu não vou lembrar da falta de ar que eu sentia quando viva.
C. e X. moram em um país estrangeiro onde a moeda é mesma, mas não vale a mesma coisa; onde falam a mesma língua, mas usam as mesmas palavras. Lá não tem mar, tem um monte de coisas. Mas não tem mar.
Um comentário:
bom. muito bom. estou saindo p o servico. volto depois p ler com calma seus textos. bj
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