Existem algumas pessoas em certos cargos ou profissões que, aparentemente, faltaram no primeiro dia de trabalho, ou não receberam o memorando que apresentava a elas os deveres e a idéia geral por trás do que elas estão fazendo. Essas pessoas não são necessariamente maus empregados, eles simplesmente não entenderam.
Porteiros – o cara do prédio da minha mãe acaba comigo. Ele está lá há alguns meses, e ainda não entendeu. Na verdade, eu suspeito que ele tenha escolhido a carreira errada. O sujeito fica lá, sentado entre o portão e a porta. Ele arrastou uma cadeira para segurar a porta inclusive, que é pra ele não ter que abrir ela e se focar inteiramente no portão. Sem problemas, eu não sou uma pessoa que escolhe a estética contra a praticidade. Eu não sei o que está acontecendo com aquele cara: vai ver ele e está fazendo algum treinamento telepático, está tentando aprender a abrir o portão com o poder do pensamento. O fato é que ele nunca, jamais, se levanta para abri-lo. E esse não é um desses portões eletrônicos, controle remoto. Alguém realmente precisa enfiar uma chave, girar e puxar. Ele não se comove com o fato de você estar carregando três sacos de supermercado, ou uma bicicleta. O homem está lá, tal qual uma montanha, irremovível, encarando o portão. Eu acho que ele nasceu pra ser recepcionista de elevador. Está na cara. Ele tentou a coisa mais perto que tinha, porteiro, mas tem essa inconveniência de ter que se levantar. Mas nada disso vai impedir que ele viva o seu sonho de ser recepcionista. A fé pode até mover montanhas, mas não move aquele homem.
Seguranças – O sujeito contrata o segurança. Diz pra ele “O negócio é o seguinte, Átila, você tem que manter tudo por aqui em paz, não deixar ninguém incomodar ninguém, evitar que as pessoas se batam.”. É isso aí. E eu imagino que, em um dia particularmente pacífico, o trabalho de Átila seja meio frustrante. Afinal de contas, se a paz reina sem a sua interferência, ele realmente não está fazendo o trabalho dele. Então o que ele faz? Ele cria uma situação em que os seus dotes físicos sejam necessários. Ele compra uma briga. O que Átila não entendeu foi o conceito de só fazer alguma coisa quando alguma coisa for necessária. Ele não entendeu que se está tudo bem, ele realmente não deve fazer nada, apenas estar preparado para alguma eventualidade mais violenta – que essa também é uma forma de estar cumprindo com as suas obrigações. Ele é o oposto do porteiro da casa da minha mãe – ele não é um empregado ruim, ele dedicado demais.
Taxistas:
Ele: O CAP? Claro, claro.
Eu: Ótimo, eu vou para um prédio do lado do CAP.
Ele: Tem uma Igreja ali perto, né?
Eu: É, tem sim.
(Começamos a rodar – eu estou ouvindo o meu Ipod e não estou prestando muita atenção. O carro para. Eu olho pra fora e vejo o prédio da Obra do Berço.)
(Eu olho pra fora com um olhar de que porra é essa. Eu olho o prédio da Obra do Berço, eu penso nas iniciais. ODB. Eu queria ir pro CAP. Eu repasso a conversa que eu tive com o meu amigo ali. Sim, eu tenho certeza que eu pedi pra ir pro CAP.)
Eu: Chefe, isso daqui não é o CAP. É a Obra do Berço.
(saio, bato a porta).
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