11.5.07

De um caderno para um quadro, de um quadro para aqui.

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Esse é o inferno
Das mulheres que
Amam o homem
errado, que foram
abandonadas no
leito frio a manhã,
que choraram até
a hora do café e que
nem por isso,
deixaram de amar.
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Esse é o inferno de uma mulher
Que permanecerá desconhecida
Seu corpo nunca foi encontrado.

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Esse é o inferno de

José de Calazans Fer-
nandes, que em uma
cidade citiada por
Lampião, viu a sua
filha morrer.

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Esse é o inferno dos homens que
Só tarde demais, perceberam ter
sido elegidos pelo amor. Amargu-
rados, eles penduraram seus es-
cudos e depuseram suas armas e
resignaram seus tronos de gue-
rreiros e pagaram o dote da solidão.

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Esse é o inferno da mulher que
ficou amarga, a vizinha mal a-
mada que enloquece dia a dia
com uma goteira que só ela po-
de ouvir, e morre de um câncer
Diagnosticado por ela mesma,
cheirando éter, injetando mor-
fina, alucinando que as cortinas
estão em chamas, fumando um
cigarro atrás do outro numa bo-
lha refrigerada, numa sala cheia
de gatos empalhados, sem jamais
ouvir à campainha que toca, toca.
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Esse é o meu inferno, ele
tem o nome de um homem.
Eu vim de uma paraíso que
tinha o mesmo nome.
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Esse é o
Inferno
De uma
Mulher
Comprou
Enxoval
Perdeu
O bebê.
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Esse é o inferno de M., que treme enquanto assite o soro pingar
lentamente - ele pede que eu diminua o ar-condicionado. Reflu-
xo no soro - o tubo se enche de vermelho. Eu imploro para que
ele pare quieto. Ele me olha profundamente, os olhos cercados
por círculos marrons arroxeados: "Eu sinto muito frio." Mas não
é só frio que M. sente - é náusea constante, cólicas e enxaquecas
épicas. Ele geme, M. geme: "Eu estou morrendo de frio". Mas não
é de frio que M. morre, ele está cansado de saber que é de câncer.
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Esse é o inferno
De R. - esse infer-
fede a porra e su-
or de homens ve-
lhos e gordos, que
tem sempre sob as
unhas uma sujeira
sob a forma de uma
nojenta pasta negra.
Alguns deles choram
depois de comer R, e R
se sente na obrigação
de consolar. Não por
que ele ache que o
dinheiro vindo daque-
las mãos sujas valha a
sua compreensão - R
consola simplesmente
porque tem um bom co-
ração que entende
o que é ser triste.
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2 comentários:

Anônimo disse...

textos que figuram em pinturas desconcertantes.
ainda me recordo do seu happening sábado no empório como um momento em que a arte, a vida do artista, o público, autor e interprete estão todos juntos numa composição não harmônica, justaposta, dissonante e brilhante. pulsando vida.

Leandro Jardim disse...

inferninho quente de bom!