21.2.05

Ilha 1003

Teus olhos de conhaque
Sujos de alcaçuz
Escorrem no falso tapete persa
O sol nasce por uma fresta
Na sua xícara partida,
Me dê um gole desse dia,
Me deixe provar as suas horas,
Deixe-me fazê-las nossas.

A quem se destina
Esse belo sorriso vago
Que me atingi como um beijo
Úmido, morno, largo.
Eu tomei o porre,
E só esqueci de ontem
Mas você estava lá antes.
E continua aqui.

Você diz que me quer
Feliz e apaixonada
Por um santo, você diz
Que tocará órgão no meu casamento.
Traga o cocar
Com as penas da ave
Que você abateu por bondade
Que voava tão perto
Perto demais do chão.

Mas você me alimenta
Nos seus sonhos,
E me vê cantar, nua
Como cantei uma vez
Tangled Up In Blue em português
Na ilha 1003.

E eles pensaram que eu era uma puta
Munida de um violão
"Que puta estranha", pensaram
até você negar,
Com o punho contra o balcão.

E eu andava em volta da piscina
Nua para os seus olhos
Frente aos leitos de plástico
Esperando que você viesse
E acendesse meu cigarro.
Quando eu virava de lado
Suada, você abria
Uma garrafa de água
Para minha boca seca.
Pois eu não tinha forças para mais nada
Só para a piada profética
Que fiz antes de dormir
"Eu vou morrer de sede
Depois que você partir"

Um comentário:

Anônimo disse...

bela Julia,
passei só para dar uma olhada no seu blog, mas ele não foi escrito para passagens de olhos. Demanda atenções maiores. Um deleite ver o domínio da língua, a portuguesa é claro! Virei visitá-lo outras vezes com mais tempo para ler.
bacci