9.12.04

O status atual não é muito bem definido. Chega a ser inteiramente indefinido, sem qualquer status. Existem, basicamente, coisas que aconteceram e coisas que estão prestes a acontecer, já surgindo na curva, já projetando sua sombra comprida no meu presente e no meu futuro. O Limbo não é promissor, por isso não chamaria o não-status-atual de limbo. Mas alguma coisa está chegando, está chegando faz muito tempo.

A vida acontece em três dimensões diferentes:

  1. As das coisas que você está fazendo - essa é, quando não se encosta com as outras duas, a dimensão das coisas mundanas e prosáicas. Você pega o ônibus, você vai a praia, você lê um livro e sai pra comprar cigarros ou raspando as axilas. As novelas pertencem a essa categoria, os ruídos pavorosos que o rádio produz, as fotografias de família penduradas nas casas de estranhos. Nada de mais.
  2. A das coisas que você deveria estar fazendo - As resoluções de ano novo, os planos trancados em uma gaveta para qual você perdeu a chave. A eterna dieta interrompida por bombons, as horas a serem gastas com trabalhos inglórios desperdiçadas na observação de sombras na parede. A consulta com o médico, a alimentação saudável, monogomia, confissão de domingo, vitaminas, sinceridade, tirar a maquiagem antes de dormir. Você nem sempre faz isso mas você sabe que deveria estar fazendo, ou melhor ainda, coisas que os "outros" acham que você deveria estar fazendo. Essa categoria se divide entre resposabilidades e baboseira politicamente correta. Cada um sabe o que é o que.
  3. A das coisas que você queria de estar fazendo - A mais elusiva de todas. Para algumas moças é o vestido branco, para alguns são muitos zeros a serem gastos com a manutenção preguiçosa de um iate e, em alguns casos extremos, estar vestindo um belo terno de pinho feito sob encomenda. Fama, dinheiro, atenção, uma impressiora que funcione. Dar a volta ao mundo, emagrecer, engordar, casar, dar para o Tiago Lacerda, batizar um filho, torturar o chefe, discursar no senado, cheirar cocaína, dissecar um sapo, ouvir música muito alto, ser votado a pessoa mais sexy do mundo pela revista People ou ser enterrado numa cova sem lápide. Tudo vale.
A felicidade (essa palavrinha tão desgastada por livros de auto-ajuda) é o encontro dessas três dimensões, a encruzillhada de todas essas estradas que correm paralelas. Quando você está fazendo o que você deve e gosta de fazer, se é feliz. Claro, é raro e quando termina é uma merda, mas existe sim. E dane-se quem comeu o seu queijo, alcançar isso está fora do seu alcançe. As vezes a vida te dá umas cartas que são uma merda e não tem muito o que fazer mesmo, apenas esperar a próxima rodada e esperar que a sorte lhe sorria.

J.

Um comentário:

Felipe Rosa disse...

A felicidade está no infinito. Mas acaba num instante.

Eu estou lendo o blog, deveria estar estudando e queria... vou lá saber o que quero! Em meio a uma tensao pre vestibular, queria estar tranquilo.