Pintura de Peter Doig
Coisas precisaram acontecer, muitas coisas, diversas coisas. Muitas coisas tiveram que acontecer para que ela conseguisse retomar o pouco controle que ela tem. Ela teve que debulhar um rosário de mágoas longo e solitário, teve que permitir uma tristeza quase suicida. Nem chorava mais, por que depois de um tempo, depois de catar muita lágrima no canto da boca, a inutilizade do choro ficou patente. E patética.
Não jogou nada fora, não queimou nenhuma carta e nem escreveu nenhuma. Não mudou de endereço, não enterrou nada. Segui assim, a vida simple, tendo que se lembrar das coisas simples: mastigar, engolir, inspirar, expirar. E às vezes isso era difícil. Às vezes sentia uma preguiça de existir desgraçada. Mas continuou o ciclo básico, o ciclo das pequenas coisas. Não estava se preparando para as grandes coisas. Nem podia pensar nelas, de jeito algum, se pensasse nele esqueceria de mastigar, engolir, respirar e inspirar.
Claro, haviam dias bons. Mas não eram muitos. E nem eram muito bons.
Não sabe como aconteceu. Um dia o ar ficou mais leve, as coisas ficaram um pouco mais claras. E estava pronta para as grandes coisas. Acordou e as malas estavam prontas. Não se lembrava de ter feito as malas, mas estavam prontas. E ela pode seguir viagem.
Deixou pra trás um esboço de uma canção triste.
E seguiu viagem.
J.
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