5.9.06

Eu tenho me entretido, antes de dormir, com algumas tentativas de tradução - quem me conhece sabe a alegria que me dá ficar quebrando a cabeça para encaixar uma palavra onde outra estava. É o mesmo tipo de "barato intelectual" que brincar de palavras cruzadas me dá, só que muito mais (muuuito) recompensador. Eu, metida que sou, tentei traduzir um dos meus poetas favoritos (e provavelmente, junto com Manuel Bandeira, o que mais me influenciou), T.S Eliot. Tentei evitar o que me incomoda nas traduções que li - uma formalidade patente que, pelo menos ao meu ver, não condiz com a poesia de Eliot. Para ler no original:( http://www.infoplease.com/t/lit/wasteland/burial.html)

O Enterro Dos Mortos

Abril é o mês mais cruel, germinando
Lilases da terra dos mortos, misturando
Memórias e desejo, avivando
Raízes inertes com chuva da primavera.
O inverno nos manteve aquecidos, cobrindo
A terra com a neve omissa, nutrindo
O pouco que vida com tubérculos ressequidos.
O verão nos surpreendeu, tomando o Starnbergersee
Com um aguaceiro; nós paramos junto aos pórticos
E seguimos na luz do sol, dentro do Hoftgarten
E bebemos café, e falamos por uma hora.

Bin gar keine Russin, stamm' aus Litauen, echt deutsch

E quando éramos crianças, hospedados com o arquiduque,
Meu primo, ele me pôs em um trenó,
E eu estava assustado. Ele disse, Marie,
Marie, segure firme. E para baixo fomos.
Nas montanhas, aí, você sente-se livre.
Eu leio, a maior parte da noite, e vou para o sul no inverno.

Quais são as raízes que se agarram, que galhos crescem
Desse refugo pedroso? Filho do homem,
Não podes dizer, ou adivinhar, pois apenas conheces
Uma pilha de imagens partidas, onde o sol bate,
E a árvore morta já não dá abrigo, os grilos nenhum conforto,
E a pedra seca nenhum murmuro de água. Há
Apenas uma sombra sob uma pedra rubra,
(Venha para sob a sombra da pedra rubra),
E eu te mostrarei algo que difere ou
Da sua sombra que na manhã cavalgando atrás de ti
Ou da tua sombra da tarde erguendo para encontrá-lo.
Eu te mostrarei o medo em um punhado de pó.

Frisch weht der Wind

Der Heimat zu
Mein Irisch Kind,
Wo weilest du?

“Faz agora um ano que me destes jacintos;
Eles me chamavam de garota dos jacintos”
- Mesmo assim voltastes, tarde, do jardim dos jacintos,
Teus braços cheios, teus cabelos molhados, eu não pude
Falar, meus olhos falharam, eu não era nem
Morto ou vivo, eu não sabia de nada,
Olhando para dentro do coração de luz, o silêncio.
Od' und leer das Meer.

Madame Sosostris, vidente famosa,
Estava muito resfriada, mesmo assim,
É conhecida como a mais sábia mulher da Europa,
Com seu baralho perverso. Aqui, disse ela,
Está sua carta, o marinheiro Fenício afogado,
(Essas são pérolas que eram seus olhos. Veja!)
Aqui está beladona, a Dama dos Rochedos,
A Senhora das Situações.
Aqui está o homem com três bastões, e aqui a Roda,
E aqui o mercador caolho, e essa carta,
Em branco, é algo que ele leva nas costas,
Que me foi proibido ver. Eu não vejo
O Enforcado. Tema a morte por água.
Eu vejo multidões, vagando em círculo.
Obrigada. Se veres a querida senhora Equitone,
Diga-lhe que trago o horóscopo eu mesma:
Todo cuidado é pouco hoje em dia.

Cidade Irreal,
Sob a névoa marrom de uma alvorada de inverno,
Uma multidão fluindo pela Ponte de Londres, tantos,
Eu não havia pensado que a morte desfez tantos.
Suspiros, curtos e irregulares, foram exalados,
E cada homem fixou seus olhos ante seus passos.
Fluindo montanha acima e Rua King William abaixo,
Até onde Saint Mary Woolnot marcava as horas
Com um som surdo na badalada final das nove.
Lá eu alguém que eu conhecia, e o parei berrando “Stetson!
“Tu que estavas comigo nos navios em Mylae!
“Aquele corpo que plantastes ano passado em teu jardim,
“Já começou a brotar? Florescerá esse ano?
“Ou a geada repentina perturbou seu leito?

“Oh mantenha o cão a distância, esse amigo do homem,
Ou com suas unhas ele o desenterrará novamente!

"Você! hypocrite lecteur!—mon semblable,—mon frere!"



J.

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