7.7.07

Sobre as pinturas: O Jardim Da Flor Fatal

“Nunca aceite uma rosa sem espinhos” – Quando uma Mulher Chora


Eu vim das canções. Cheguei ao Jardim da Flor Fatal através delas, de uma canção tão antiga quanto o tempo. Admito ter pegado carona na literatura para chegar mais rápido, pois eu tinha muita pressa. Vim na garupa de Lautreamont, vim guiada pela luz negra de Manuel Bandeira, vim ouvindo Muddy Waters e Nelson Cavaquinho. Na paisagem vi Kentridge, Doig, Edward Gorey, Leonilson e tantos outros.

Eu ouvi em uma canção do Bob Dylan que “behind every beautiful thing, there’s been some kind of pain.” Eu li, num poema do Manuel Bandeira , que a beleza é um conceito, é triste, não por si só, mas pela incerteza e a fragilidade que ela contém. Eu acredito que a beleza e a verdade sejam irmãs, gêmeas idênticas. E talvez a coisa triste por trás da beleza seja a verdade, que nós não podemos tocar, que pertence só a Deus e que, para nós mortais, é incerta e frágil. Mas não há tanto drama nisso, não há drama o bastante para anular a beleza que toda dor reflete. E eu não estou aqui para provar o drama e a dor, nem para negá-los. E, nesse processo, eu também me vejo incapaz de negar a beleza, ou frisá-la. Isso é trabalho de gente que se leva a sério o que, felizmente (ou infelizmente), não é o meu caso.

Eu pesquiso a beleza perigosa, a beleza fatal da flor venenosa que não se contenta em ser apenas bela. Esse jardim não é o das delícias, esse é o jardim das coisas que podem te matar – a peçonha, a tristeza, a dor, a solidão. E eu tenho a sorte de não conhecer a tristeza e a angustia da fome, das grandes desgraças pessoais. As minhas pequenas desgraças pessoais são de cunho romântico, e são elas que aparecem como alegoria de tudo o que é triste.

Mas como eu não me levo a sério, eu preciso avacalhar. Aí entra o papel, aí entra o desenho despretensioso, aí entra o senso de humor sardônico.

O texto se funde com a pintura em diversos momentos, e por diversos motivos. Às vezes uma frase ilustrativa, redundante, que frisa o senso de humor da artista. Os textos também são explorados como recurso visual, traçinhos que compõe a pintura. E o texto também é complemento poético para a pintura desprovida de leveza. Sempre legível apesar de precário. Recomenda-se a leitura.

O resultado de uma pintura que navega entre o expressionismo e o popular que, apesar do pesado conteúdo intelectual, é decifrável ao olho nu e inculto e não requer o filtro das idéias. Eu venho para falar das coisas que existem desde o primeiro jardim, da onde fomos expulsos, a natureza humana que gera toda a beleza e o horror do mundo.

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