23.10.06

Unhas Partidas

Eu mal posso respeitar a minha respiração. Eu a prendo entre goles de champanhe, eu a esmago com o peito pesado de desejos, com a fumaça de últimos de muitos outros cigarros que ainda virão. Eu sinto saudades, sufoca com sombras escuras, deixa o pulmão estreito, as causas e efeitos distantes. Quando eu estava lá, com você, com seus pés nas minhas pernas sob a inapropriada mesa de churrascaria onde eu passei a minha infância fazendo esculturas com pães de queijo ruins e palitos de dente. Porque você faz isso comigo? Porque você não faz o que eu quero mas não posso pedir?
Eu quero o elusivo vestido branco que cresce frente aos olhos das mulheres na vitrine, o filho que recomendarão que seja abortado, o estúpido laço dourado, as horas entre suco de laranja, jornais que só você lê e começos de dias que começam tarde demais para terminarem cedo. E você lê os jornais pra mim, quebrando os códigos da máfia nos classificados:

“O Tio Altermar Gostaria de Agradecer A Visita De Seus 15 Sobrinhos A Casinha Na Encosta. Esperamos Vê-los Novamente Na Próxima Primavera”

ou alguma coisa do gênero.

E eu ria, tão boba, rindo daquele jeito, escondendo a minha nudez atrás de um lençol estrategicamente largado sobre minhas pernas. E os dias passaram, eu novamente raspei os meus sovacos, as tropeços e solavancos atravessei as multidões que roubavam nossas palavras. E eu agora entendi quase tudo o que você dizia, todas as mensagens subliminares de canções românticas que me fizeram sentir a melhor entre as mulheres por estar nos braços de um sujeito que beijava os meus olhos antes de eu dormir. Eu me perdi depois, sozinha no carro escuro, voltando pra casa sob os olhos de um preocupado taxista enquanto tentava enxugar a água salgada que os meus óculos escuros não conseguiram aprisionar. Deus sabe como eles tentaram.
O amor é uma ferida. Não ponha sal sobre ela. Ela precisa respirar, não a cubra com essas bandagens, não olhe pra ela com medo. Afinal, foi minha voz que me traiu? Foram os óculos? Foram as minhas mãos? Eu quis me entregar, mas ainda não sei como. Você não me deixou entender, só me fez entregar cada vez mais, cada centímetro de um braço a ser beijado, cada suspiro e cada unha partida contra as suas costas.



J.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não me sinto nem um pouco à vontade pra comentar posts íntimos, então prefiro lembrar da primeira matéria mafiosa que eu vi publicada no jornal. Meu pai - por mais bizarro que pareça - me telefonou da rua pra eu ler uma nota em letras grandes no JB com layout de obituário que começava com "Se a coisa estiver preta e fofa, não..."... acho que era "...não se preocupe.". Tinha um formato publicitário e no final dizia que em caso de dúvida ou dificuldade, o leitor acendesse uma vela para o Santo X ou a Santa Y. :D

Anônimo disse...

Então....seu som veio até a mim...de alguma forma...gostaria de lhe falar (não se trata de nada demais....por ora)...som músico tbm...qq coisa veja alguma coisa minha em http://vounessasp.terra.com.br/site/bandasNovas.asp e procure pelo cantor Sonnel (me) e querendo : silveiranelson@hotmail.com é meu msn....SUCESSO!!!!