23.10.06

Novo Convidado

Que sangue corre nas suas veias?
sangue sujo, sangue de besta
Que nem os cães querem lamber.

E quem vai querer beijar
Essa sua boca azeda,
essa moldura de língua negra?
Alguém virá, alguém virá.

Agora eu lembro, sim, eu lembro,
Da luz fosca de um pêndulo
Da onde gotas de óleo escorriam.
Por que me ungiam nesse altar?

E que altar, que altar era aquele,
Quem me amarrou nele?
E como eu voltei a ser
Essa que agora brinda você,
Com a reza destorcida,
E a boca inquieta.

Que agora transfigurada
Com seus olhos rolando na nuca,
Uma gralha bicando seus seios,
Crisântemos velhos na sua cintura,
Carregados de perfumes -
Que não pertenciam a eles -
Talvez sangue, talvez rede
de esgotos, talvez vislumbre
De algo que não se conhece.

Não, eu nunca fui aquela.
Eu não voltei, cheguei agora.
Eu me perdi, foi numa dessas,
Vamos, já passou da hora,
já doeu e já sarou;
O que restou eles jogaram fora.
E finalmente, estou aqui,
nesse banquete de formas negras:

Erguendo meu corpo sobre a mesa;
Mãos sujas do sangue da besta.

Erguendo a voz e os olhos cegos,
brindando tudo que nego
em um copo pra você.

Pois nada restou,
Nada que possa ser mencionado
Talvez só uma cadeira
Para um novo convidado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gran finale. Muito bom. :)