23.10.05

Até Então
I



Alguma jóia eu quero,
Discreta, destoada, imune à escuridão.
Quero lavar as suas cartas
Até que fique tão brancas, tão
Limpas para serem reescrita.
Me conte dos lugares
Aonde você sentiu saudades minhas,
Não me interessam os entre postos,
A localização dos telefones
De onde você não me ligou
Mas pensou em mim o bastante.

Escancarando as rajadas de um raio
Que se divide em cinco sóis,
Engasgando com a fumaça
De um cigarro suspeitamente doce,
Entre a pedra, a foice
E sacrifícios tão medonhos.
Eu sinto uma dor irradiada
Pelo peso da minha cabeça
Atravessando ombros, espinha
E as asas amputadas
Das minhas omoplatas.


Até então eu era Essa
(muito prazer)
com um cachorrinho aninhado em minha barriga.
Fez tanto frio aquele dia.
(Muito prazer)
(Eu adoro frio)
II
Desvairando-me entre caixas de papelão
E poeira peluda aglutinada
à lã cinza e alérgica.
Vertendo os sete cantos da tarde,
meus nervos se ramificavam
como rios cruéis, borbulhando
sob a carne desprotegida.
Quero alguma droga
de amnésia sinestésica
para me livrar do mundo
que o seu cheiro carrega.
Leve-me a um arquipélago de estrelas
Onde os homens enchem a boca de pedras
e os cabelos das mulheres param de crescer.
Leve-me onde as ostras crescem
Nas costas de morenos largos,
a terra aprisionada nos cantos dos olhos
das putas de centrais paranaenses.
Os dedos se cruzam, pequenos,
atrás de promessas grandes.
Quinhentas notas de vinte
na encruzilhada, cachaça.
Boa sorte, até agora,
só preciso, boa sorte.
J.

Nenhum comentário: