7.11.05

- Sobre Eu e Jorge -

Quando ele veio à minha casa pela primeira vez ainda não havíamos nos beijado, por mais que eu desejasse isso e por mais que eu temesse esse desejo. Temia que ele me decepcionasse, lutava contra a arquitetura das minhas expectativas, que erguia pontes frágeis entre os nossos lábios toda vez que eu o olhava por mais de dez segundos.
Então, depois do jantar, eu e ele estávamos sentados em meu quarto, cada qual em uma cadeira com rodinhas, que guinchavam protestando contra os movimentos mais sutis. Ele olhava fascinado pelo mistério vulgar das traquitanas sobre a minha bancada: um cachorrinho de porcelana, um apontador na forma de um isqueiro, fotos Polaroid desbotadas. Tocava tudo com relutância, como se lhe fosse proibido, examinava tudo, buscando as razões funcionais de coisas meramente decorativas. Eventualmente se satisfez com sua averiguação e descansou o azul de seus olhos em mim enquanto eu explicava a origem de um bibelô de cerâmica que a pouco lhe parecia muito interessante. A estória se desenrolou, longa, improvisada e sem inspiração enquanto ele se concentrou no colar que eu usava. Era uma espécie de seta retorcida, uma adaga prateada adornada por círculos. Ele me interrogou sobre o pingente, quase como se me testasse. Eu lhe disse o que eu sabia (que era somente o que a pessoa que havia me vendido o colar me dissera): era um símbolo viking, celta, eu não sei, e representava o vento, associado a liberdade, a possibilidade de independência inerente ao espírito humano, custou cinco reais e eu achei bonitinho. Ele deslizou sua cadeira em minha direção, segurou o amuleto entre os dedos vigorosos, virando-o em diversas direções, um sorriso torto meio debochado em seus lábios. A buginganga vagabunda, que fazia um tempo já estava prestes a se partir, resolveu fazê-lo entre os dedos dele. Sem estalo, um corte limpo, bem no meio da seta. Segurando a metade da seta ele se desculpou em tom formal e educado, como mero protocolo desprovido de arrependimento ou embaraço. Você pode colar de volta, ele disse, e eu mais uma vez mencionei o preço ridículo, a procedência mixuruca e o significado questionável. Ele pôs a metade da seta sobre o tampo de vidro da bancada e sugeriu que fossemos dar uma volta.
Naquela noite, entre acácias, em uma rua deserta de calçada esburacada, ele me beijou. Talvez tenha sido eu que tenha beijado ele, mas duvido. Mas nunca mais falamos sobre o amuleto, sobre símbolos aéreos, vikings ou celtas, ou significados formulados por vendedores de bijuteria.
J.

Um comentário:

Anônimo disse...

http://www.djmal.net/thaspot/members/viagrakaufend
[b]VIAGRA online kaufen BILLIG BESTELLEN VIAGRA[/b]
http://www.serataanime.it/forum2/member.php?u=336
[b]VIAGRA Apotheke BESTELLEN PREISVERGLECH VIAGRA[/b]
VIAGRA BESTELLEN eur 0.85 Pro Pille >> Klicken Sie Hier << BESTELLEN BILLIG VIAGRA CIALIS VIAGRA online bestellen Viagra im Internet BESTELLEN
http://www.sembrasil.com.br/assets/snippets/forum/viewtopic.php?t=145
[b]VIAGRA Austria VIAGRA BILLIG PREISVERGLECH BESTELLEN[/b]
[url=http://www.einvestorhelp.com/member.php?u=37776]VIAGRA Deutschland[/url] - PFIZER VIAGRA
[b]VIAGRA information VIAGRA BILLIG BESTELLEN[/b]
[b]VIAGRA bestellen PREISVERGLECH VIAGRA[/b]
[url=http://www.postyouradforfree.com/showthread.php?p=313013]VIAGRA ohne rezept[/url] - PFIZER VIAGRA
[b]VIAGRA® kaufen VIAGRA REZEPTFREI PREISVERGLECH[/b]
[b]VIAGRA Rezeptfrei VIAGRA BILLIG PREISVERGLECH[/b]
[b]VIAGRA® kaufen
VIAGRA Deutschland
VIAGRA online kaufen
VIAGRA on line
VIAGRA alternativ
VIAGRA rezeptfrei
VIAGRA Kaufen
VIAGRA Apotheke[/b]