19.11.07

Exílio

Existe algo de triste e confortável na constelação de coisinhas que eu faço acontecer no tédio que antecede a chegada do sono. Eu como alguma coisa, eu assisto televisão para não pensar em nenhuma de todas as coisas em que eu tenho que pensar. Sinto desejo de fumar um charuto. Toco violão. Leio um pouco. Me forço a escrever.

Hoje é dia 15 de novembro, penso no desgosto de Pedro D’Alcântara, prestes a embarcar para o exílio. No espaço entre as estrelas da minha constelação de coisinhas a palavra “exílio” respira. Ela me persegue, faz algumas semanas, com as palmeiras e os sabiás daquele poema que o meu pai me leu na mesa de um restaurante, já fazem muitos anos. Gonçalves Dias tem a história mais triste: Morreu no naufrágio do barco que o trazia de volta à pátria.

Eu nego o nome da minha solidão. Dou-lhe novas alcunhas: “descanso”, “tédio”, “fracasso”. Não quero sair e encarar o mundo nesse dia chuvoso, porém tão pouco quero ficar só. Quero que o mundo todo venha para onde já estou, silencioso, calmo, respeitoso. Quero alguém que vele o meu sono. A voluntariedade do meu exílio não nega o seu significado. A minha vontade de ser só não nega a minha solidão. Eu nego e pago, cabeça erguida e olhos baixos, eu nego e pago.

Nenhum comentário: